Bandidos continuam matando e a gente acha tudo lindo.


 

Palavras são como bolhas de sabão. Colorem quando os olhos lhes atribuem cor, voam para onde o vento levar e desaparecem antes de chegarem. Palavras são como pessoas, só que melhoradas. Podemos ser coloridos ou cinzas, só para andarmos em qualquer direção com o intuito de chegar a lugar nenhum.

Cada um escolhe uma meta de vida. Muitos cuidam de lepidópteros. Outros escrevem livros. Poucos leem.  Alguns rezam. Dezenas se matam. E eu tento explicar a maldade do homem.

Sim, o problema é meu. Inclusive essa mania de responder possíveis indagações que você, leitor, possa fazer. É mania mesmo. Saber que a minha busca é um tanto absurda, faz com que o meu real objetivo tenha veracidade. Porque neste mundo, tudo que é inédito e burro se autoexplica.

Outro dia aconteceu mais um assalto a uma casa lotérica. Um trabalhador, de 28 anos, que apenas fazia seu ofício, foi morto por nada. Os bandidos não conseguiram roubar o dinheiro já que a porta era blindada. E, claro, por frustração, atiraram num trabalhador que apenas limpava o chão. O rapaz era um pai de família. Mais duas crianças crescerão sem o pai.

O Brasil inteiro soube deste caso.  Soube, mas já esqueceu. Porque ser morto por bandidos neste país é o mesmo que abrir uma lata de cerveja. São tantas, toda hora, que as latas vazias apenas ficam vazias por breves minutos.  Daqui a pouco serão achatadas por algum catador.

Um tanto idiota, entretanto não há como fugir da vontade de escrever esta pergunta: O que leva um bandido a atirar em alguém para descontar a raiva? Esqueça a sociologia enumerando estatísticas. Esqueça a antropologia falando de miscigenação. Esqueça o IBGE falando do governo Collor. Esqueça tudo e tente responder em poucas palavras: O que leva um bandido a atirar em alguém só pela vontade de atirar?

Ainda não tenho a resposta. Por certo encontrarei algum dia. Porque sou desses que gostam de desmontar relógios para ver a engrenagem rolando em loop. Enquanto uns colecionam lepidópteros eu coleciono dúvidas. A certeza limita.

Eu poderia ficar quieto, lendo alguma biografia, ouvindo ao fundo Richard Clayderman tocando pela enésima vez Ballade pour Adeline. Eu poderia ficar quieto.

Por enquanto, a explicação mais convincente é a da genética. Alguns nascem maldosos. Com instinto de matar. Na infância matarão lagartixas. Na adolescência matarão inocentes. Na cadeia, se matarão. Convincente, não?

Até porque hoje é sexta-feira santa. Jesus na sessão da tarde. Festinha para os romanos incrédulos. Resquício de eclipse. Véspera das guloseimas. E ninguém mais se recorda do trabalhador de 28 anos que foi covardemente assassinado por moleques.

Podem ir para a praia e dançar das coreografias do beijinho no ombro. Leiam a Veja deste mês. Visitem as paridas. Façam canções. Revelem os segredos. Desenhem linhas cardioides. Eu fico com essa parte chata de soluçar soluções indissolúveis.

Chega de esquecer os assassinatos de ontem. Chega. Existe algo de errado e eu quero saber.

 

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